Nos últimos tempos, a crescente preocupação global com o meio ambiente e a preservação do nosso planeta tem sido impulsionada pelas mudanças climáticas. Essa preocupação vai além dos cientistas, que continuam apresentando evidências cada vez mais sólidas sobre o aquecimento global e seus riscos. Aqueles que acompanham as notícias também percebem a frequência cada vez maior de eventos climáticos extremos, como a recente chuva recorde que causou destruição e perdas de vidas no litoral norte de São Paulo, em fevereiro. Diante desse contexto, a Organização das Nações Unidas (ONU) marcou, pela primeira vez neste ano, o Dia Internacional do Resíduo Zero em 30 de março.
O destino do lixo tem um impacto significativo no efeito estufa, e a quantidade global de resíduos é impressionante. A cada ano, a humanidade produz mais de 2 bilhões de toneladas de lixo sólido, sendo que pelo menos 33% não recebem tratamento adequado, conforme alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres. Isso equivale a um caminhão carregado de plástico sendo despejado nos oceanos a cada minuto, uma imagem impactante que levou Guterres a concluir: “A humanidade está tratando nosso planeta como um depósito de lixo”.
É crucial entender que tudo o que é descartado permanece na Terra, reforçando a importância de reduzir a quantidade de resíduos, aumentar a proporção de materiais reaproveitados e garantir um destino ambientalmente seguro para o que realmente é descartado. Essa tarefa exige ações em várias frentes e escalas, desde o comportamento individual de cada cidadão até a implementação de políticas públicas eficazes e a conscientização dos agentes econômicos em todas as etapas da cadeia produtiva.
Guterres também destacou o desperdício de alimentos como uma preocupação importante. De acordo com estimativas da ONU, cerca de 14% dos alimentos colhidos nas lavouras se perdem antes de chegar aos supermercados, e isso continua acontecendo até chegar à mesa do consumidor. Essa situação já seria inaceitável, especialmente considerando o número de pessoas que passam fome no mundo. No entanto, diante do aquecimento global, a questão se torna ainda mais alarmante, já que “impressionantes 10% de todas as emissões globais de gases do efeito estufa vêm do cultivo, armazenamento e transporte de alimentos que nunca serão usados”, lamentou Guterres.
O debate sobre o lixo envolve hábitos de consumo, estratégias de produção e circulação de bens, além da capacidade governamental de implementar políticas públicas que otimizem o uso de recursos e reduzam perdas. Esse é um tema que afeta o modo de vida de cada indivíduo, o funcionamento da economia e a gestão pública, representando um desafio complexo que requer ação imediata.
No Brasil, a geração de lixo atingiu a marca de 81 milhões de toneladas no último ano, sendo que 39% desse volume não recebeu uma destinação adequada, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Apesar de alguns avanços alcançados na última década, o país ainda está atrasado nessa questão e tem muito a fazer, começando pelo fim dos lixões e aterros, bem como pela promoção da reciclagem. É essencial compreender que a gestão de resíduos sólidos não pode mais ser deixada apenas no campo das boas intenções.